Saturday, October 29, 2011

Crônica dos 4Rs




Quero contar uma história dos 4Rs que escutei hoje durante minha caminhada matutina.

O dia para os que vivem na nossa microbacia do córrego do urubu amanheceu lindo, azul, claro e fresquinho. Delicioso ver o voos de araras verdes e cantos múltiplos de passaros, o convite ao passeio pelas ruas de terra e cerrado foi irresistível, logo que o sol nasceu, aromas de frutas e flores, uma relva verdinha e cheiro bom de eucaliptos.


Aquela sensação de calma invadiu meu coração, a cada passo no caminho aumentou a curiosidade sobre o que os olhos veriam e enxergariam, ouvidos atentos a história do dia, veio o silêncio tranqüilo no espaço curto antes das cigarras começarem seu cantorio intermitente de primavera.

E nesta caminhada, aberta a experiência sensorial, encontrei a natureza e a paisagem num reflexo da historia de todos nós, retalhos e entulhos da história das pessoas que vivem aqui ou que passam por aqui. Infelizmente, alguns entulhos de historias mudaram o tom da exuberante beleza do dia que meus olhos viram ao começar minha caminhada.

Já na esquina do caminho para quem sobe para a Araguaia 2 e quem vira a esquerda no caminho para as chácaras do Sagui vi entulhos de construção e restos de garrafas de óleo para carro, junto a escavações e erosão. E este cenário se repete no caminho lá na curva do rio, onde a erosão das margens está pondo em risco a nossa acessibilidade e a própria estrada. Nenhuma história nova, esta história das primeiras chuvas que trazem garrafas pets para dentro da cachoeira e fazem as voçorocas, conversa entre velhas comadres são nossas velhas conhecidas.

Já chegando a saída/ entrada do Portal encontramos a história da degradação aberta aos nossos olhos, convidando entulheiros a depositarem seus pertences menos queridos, o que consumiram em suas casas, para engrossar o entulho de histórias intimas do que usamos, lemos e escrevemos, e não queremos mais. Não gosto de me debruçar na vida alheia, tão pouco entrar na intimidade do outro sem ser convidada, mas é impossível não perceber o cheiro e o aspecto degradante daquilo que consumimos e descatarmos das nossas vidas logo ali escancarado na porta de entrada de nossa casa.

Ás vezes há como salvar algo precioso que talvez esteja ai por um acidente, no meio da paisagem desfigurada, como um pendente de camelos e miçangas pendurado numa placa antiga colorida do Ateliê Anjico, que ficou toda destruída debaixo dos escombros da demolição do muro do vizinho, hoje simbolo dos espaços invadidos e degradados, que vão com sua imponente cerca de metal fechando os espaços livres.

Mas o que mais me surpreendeu, foi o que vi nos espaços livres, no retorno desta caminhada, no caminho dentro do futuro, dentro do que ainda resta do cerradão, no caminho do novo taquari…

Longe da estrada de terra, e dos olhos desapercebidos, encontrei o novo desmatamento e grandes escavações, a erosão, e um volume de novas histórias!

Entulhos sem vergonha de estarem lá para contar a vida dos que ali os deixaram: piscinas de pvc, tanques de lavar roupa quebrados, tubos de ferro retorcidos, brinquedos velhos de criança, fraldas, pneus de bicicletas, raquetes velhas de tenis, cadeiras, panfletos de Aniversário do Lago Norte fazendo propaganda e vendendo móveis de madeira, plásticos de todas as cores e formas, entulhos de azulejos e pias velhas, restos de obras e outras coisas irreconhecíveis desta história nova e grande!

E logo antes de voltar pela esquina do Araguaia, no meio da paisagem degradada me surpreendi com um livro jogado no chão, molhado e sujo de terra, aberto na página 206 e 207, onde se lia:

“Você já ouviu falar dos 4Rs? Pois é! Todos nós podemos colaborar para construirmos um mundo melhor.”


“Reduzir, reutilizar reciclar e repensar.”

Curioso e triste ver que um livro de ciência do Centro de Ensino do Lago Norte do aluno Rosimauro Gomes dos Santos, que logo na contracapa pede para que ao final do curso o aluno devolva-o a professora para ser reutilizado, ficou assim jogado no meio dos entulhos que estão degradando a nossa paisagem!

Que lição o livro de ciências do Rosimauro nos traz? teria ele passado na prova dos 4Rs?

Como podemos ler a nossa paisagem através desta mensagem?

Onde foi parar a história dos 4Rs na nossa bacia, nossos habitantes precisam da cópia deste capítulo dos 4Rs para serem lembrados de qual historia queremos contar para nossos filhos e netos?

E os esforços da comunidade em construir um plano de gestão de resíduos ficaria infrutifero se todos incorporassemos as licóes do livro de ciencia do Centro de Educação do Lago Norte?

E a nossa Administração do Lago Norte, será que deixou seus panfletos serem jogados assim no caminho de terra .... junto a outros entulhos? Que papel o nosso governo local tem quanto a esta historia?

Voltei com o panfleto do Aniversário do Lago Norte, o livro de ciencias e os camelos do Anjico na mão para casa. São as relíquias de uma curta caminhada ...

como um lembrete: ao acordar todos os dias, olhar e sentir o lugar que vivemos para chamar a atenção e entender a gravidade deste problema, para assim nos debruçar na solução.

"é importante repensar nossos hábitos , atitudes e procediments.

Como podemos colaborar para mudar esta situação?" (p. 207)


Um abraço e bom sábado

Renata

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