Saturday, September 17, 2011

Seminário de Assoreamento do Lago Paranoá 20 -21 se tembro 2011

Assoreamento do Lago Paranoá

A noção de sustentabilidade tem-se firmado como o novo paradigma do desenvolvimento humano. Diversos países vêm assumindo o compromisso e o desafio de internalizar, nas políticas públicas, as noções de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável.

Segundo ANDRADE[1] (2010) os desafios para a gestão ecológica do ciclo da água na bacia do Paranoá têm origem nos impactos ambientais causados pela ocupação urbana, tais como o aumento da velocidade de escoamento da água, devido à impermeabilização de parte significativa da bacia e à canalização dos leitos dos rios; a redução de áreas de infiltração, que afeta, diretamente, a quantidade e a qualidade das águas subterrâneas; as distorções no movimento por gravidade da água e a expansão urbana de baixas densidades (cidade dispersa) com jardins e piscinas que supõem uma demanda de consumo de água significantemente maior que as tipologias de altas densidades (cidade compacta).

A ocupação urbana pressiona o meio ambiente por meio do desmatamento das áreas edificadas, áreas estas que muitas vezes se estendem até as margens de rios; da erosão causada pelo enfraquecimento do solo desnudo; do assoreamento dos corpos hídricos; do volume de resíduos domésticos e de esgoto que sobrecarregam rios e estações de tratamento e acabam provocando poluição das águas; da sobrecarga do sistema de abastecimento de água; dos espaços públicos desprovidos de rede de captação de águas pluviais e de sistemas de reuso das águas servidas; da estrutura urbana que promove a dependência do automóvel; da umidade do ar, cada vez mais baixa, e da qualidade do ar comprometida. Todos esses fatores exigem do poder público uma estrutura de atendimento maior, com instituições fortalecidas e com a participação efetiva da sociedade na gestão dos recursos hídricos

O Lago Paranoá, um dos símbolos da Capital Federal, está sofrendo um processo de assoreamento que preocupa a todos e torna-se objeto de estudos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá. A discussão sobre a capacidade suporte do lago, quando vista por meio de indicadores como a eutrofização, a floração de algas, o surgimento de plantas aquáticas, a contaminação bacteriológica, os desmatamentos, as áreas degradadas, os processos erosivos e o consequente assoreamento dos corpos hídricos da área de drenagem e do próprio lago, deve ser entendida como expressão da ação antrópica decorrente dos usos e da ocupação do solo na Bacia do Lago Paranoá, o que vai contra a ideia de desenvolvimento sustentável.

Atualmente, o Lago Paranoá vem sendo usado para a prática de esportes, lazer, recreação, turismo, geração de energia e num futuro muito próximo, para o abastecimento público. Esses usos exigem que o lago mantenha certa quantidade e qualidade de suas águas, para que a população não venha a ficar exposta a riscos provenientes do uso desse corpo hídrico.

Os moradores mais antigos de Brasília devem se lembrar da época em que o Lago Paranoá sofria com o mau cheiro exalado de suas águas em função do processo de eutrofização, como mostram as reportagens do Correio Braziliense de 1978.



A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal – CAESB, após um longo trabalho voltado para controlar a carga de nutrientes do lago conseguiu reverter o processo de eutrofização e tornou o Lago Paranoá um corpo hídrico saudável, novamente. Hoje, o lago sofre um processo de assoreamento sério, que pode novamente comprometer a qualidade e a quantidade de suas águas que estão se tornando rasas de forma não muito perceptível aos olhos, mas de forma alarmante se observarmos os braços do Lago Paranoá do Riacho Fundo e do Bananal.

Estudos da CAESB mostram o avanço do assoreamento nesses dois braços do lago e apontam como causa fatores como a ocupação desordenada, desde o início da construção de Brasília, da sub-bacia do Riacho Fundo; o processo de urbanização acelerado, a partir dos anos 90, na sub-bacia do Ribeirão Bananal, ocorrido da mesma forma em Águas Claras, Vicente Pires, Arniqueiras, Mansões Park Way, Cidade do Automóvel, Noroeste e Varjão.

Os estudos apontam também os fatores decorrentes das obras de infraestrutura de transporte, como o metrô, a duplicação da EPTG e EPGU. As marcas da exploração e da ocupação da Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá expõem verdadeiras cicatrizes, observadas ainda hoje. Fotografias aéreas retratam as marcas das agressões sofridas pelo Lago Paranoá ao longo das últimas décadas.


E retrata o processo de assoreamento sofrido no braço do Bananal, próximo à Ponte do Bragueto nos anos de 1966, 1982, 1994 e 2009. A fotografia abaixo retrata o mesmo processo ocorrido no braço do Riacho Fundo nos anos de 1966, 1982, 1994 e 2004. Percebe-se pelas fotos que a diminuição do volume de água é muito grande e a recuperação desses braços exigiriam anos de altos investimentos públicos, que, mesmo assim, não trariam a garantia de estancar o processo.


Por todos esses motivos, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá – CBHRP, criado pelo Decreto Distrital nº 27.152, de 31 de agosto de 2006, com área de atuação ampliada pelo Decreto Distrital nº 31.255, de 18 de janeiro de 2010, com o intuito de promover o conhecimento adequado, essencial para a tomada de decisões e para estimular a ação convergente dos interessados em cuidar do patrimônio público e coletivo, está organizando um workshop sobre esse processo de assoreamento na busca de soluções sustentáveis para o Lago Paranoá.

O evento acontecerá durante os dias 20 e 21 de setembro de 2011 no auditório nº 1 do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília - UnB, Campus Darcy Ribeiro, Bloco 02, no horário de 8h às 18h, com apoio da ADASA, IBRAM, Embrapa Cerrados, SADIA S/A, Universidade Católica de Brasília – UCB, CAESB, CEB e Fundação Universidade de Brasília – UnB.

INSCRIÇÕES GRATUITAS – VAGAS LIMITADAS

cbh.paranoa@adasa.df.gov.br



[1] Liza Maria Souza de Andrade, doutoranda do programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília - Conexões dos caminhos das águas no espaço urbano.

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