Wednesday, August 18, 2010

Instituto Sálvia - Andrew Miccolis - Núcleo Rural do Urubu

Reportagem Cultura Permanente
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por Carolina Mourão


A WWF estima que 90% das nascentes do Distrito Federal estão comprometidas por agrotóxicos ou por lixo. Das 25 áreas rurais estabelecidas durante a consolidação da capital para o suprimento de alimentos e sustentabilidade local, apenas seis apresentam hoje explorações agrícolas significativas. As outras, parceladas e vendidas pelas próprias autoridades que legalizam vendas de terras públicas, se converteram em espaços exclusivamente residenciais sem infra-estrutura. A capital está insustentável, precocemente. Mas as autoridades se recusam a assumir a crise ambiental como uma questão ética e política.

Mas há uma saída. Chama-se Permacultura. Guarde esta palavra. É a partir dela que começa a contagem regressiva para o resgate da qualidade de vida tanto na cidade como no campo. É ela o elo entre a degradação urbana, irremediável, e o recomeço possível, saudável, sem truques. A Cultura Permanente, ou Permacultura, nunca foi um projeto utópico. Foi preciso alcançar um limite, na brutalidade contemporânea, para que a última tentativa, antes da perda total da consciência, fosse posta em prática.

A Permacultura, um conceito complexo que inclui a consciência individual de impacto ambiental, da dignidade de seres humanos e da convivência racional com a natureza, passando pelo lixo que cada um produz, até um amplo resgate de qualidade de vida, já funciona para muitas pessoas. Passo a passo, ela está trazendo a produção de alimentos e a eficiência energética para os espaços urbanos e periurbanos. Uma nova lógica foi instalada em alguns pontos da cidade para converter problemas em soluções e mostrar que é possível conquistar níveis de sustentabilidade sem a ajuda das autoridades, por meio de iniciativas pessoais, familiares ou comunitárias, que estão estendendo esta influência para outras comunidades.

André Miccolis, consultor em permacultura e sistemas agroflorestais e dono da chácara Jardim do Paraíso, vive um projeto ousado e real de Permacultura. Ele elaborou um Plano de Uso e Gestão Ambiental para a chácara que inclui construções de adobe com reaproveitamento e reciclagem de materiais e a recuperação de áreas degradadas por meio de sistema agroflorestais e da preservação da vegetação nativa. A chácara desenvolve atividades como a produção de mudas, compostagem, criação de galinhas caipiras e reaproveitamento das águas cinzas na irrigação. A interação com a comunidade acontece por meio de visitas públicas, na área que tem uma cachoeira perene e atividades de educação ambiental. Lá, os visitantes podem participar de iniciativas em defesa ao meio ambiente. A própria visitação gera renda. As práticas adotadas na propriedade vêm solucionando alguns problemas típicos da região: áreas degradadas, desmatamento, queimadas, solos ácidos e de baixa fertilidade, erosão e assoreamento dos córregos. Como o reaproveitamento é grande, gasta-se muito menos para a manutenção das atividades.

Na agrofloresta da família Miccolis existe um consórcio de espécies de árvores nativas e frutíferas de vários estratos e ciclos, começando com pioneiras rústicas como, por exemplo, capim elefante e flor de mel, banana, amora, bambu, abacaxi e algumas leguminosas. As hortaliças e as raízes são plantadas no início do sistema agroflorestal, mas são cultivadas principalmente em canteiros feitos em terraços das áreas em declive e integrados ao galinheiro. O Jardim do Paraíso constitui-se hoje numa unidade que conseguiu reduzir a incidência de pragas e doenças, como formigas cortadeiras e cupins, devido à diversidade do sistema e ao aumento da fertilidade do solo. Entre pedras e cascalhos, este pequeno santuário em formação serve de reduto para a fauna local e de moradia saudável para as três famílias residentes de uma ecovila em desenvolvimento. Este projeto demonstra que é possível morar em áreas de interesse ambiental cooperando com a natureza.

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